Como a influência de um novo Islão divide as gerações em Moçambique

No dia oito de abril do ano passado, jihadistas assassinaram 52 pessoas na cidade de Xitaxi, que fica na província Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique. Os homens fortemente armados, que eram provavelmente da Tanzânia e da Somália, davam a escolher às vítimas: subjugar-se à Lei da Sharia ou morrer.

Ataques com motivação islamista à população acontecem frequentemente no norte de Moçambique, desde 2017 há atos violentos pelos membros das milícias terroristas somali «Al Shabab» e «Ahlu Sunna Wa-Jamah», que estão ligadas ao Estado Islâmico. Antes dos ataques predominava uma convivência pacifica entre muçulmanos, cristãos e seguidores das religiões animistas (indígenas), e políticos moçambicanos e também jornalistas estão de acordo que o pensamento fundamentalista vem do exterior. Além disso, a organização dos ataques acontece nos países adjacentes, ocupados pelos islamistas. Moçambicanos que propagam uma interpretação radical do Islão geralmente estudaram nos países árabes, e retornaram radicalizados para Moçambique. O que é especialmente perigoso são os esforços das jihadistas em ganhar a simpatia e a confiança dos moçambicanos pobres por propaganda e presentes e para os tornar lutadores do jihad.

Os ataques no norte de Moçambique mostram um desenvolvimento que é visível em outros países africanos também. Ideologias fundamentalistas surgem tanto da fé da igreja evangélica como da fé muçulmana, e são distribuídas pelos partidos, governos e movimentos e ameaçam a convivência pacifica das religiões no continente africano. No Africa Film Festival, que tem lugar cada ano em Colónia, o tema da radicalização religiosa foi um dos focos temáticos em 2019. Realizadoras/es como Roger Gnoan M’Bala (AU NOM DU CHRIST), Merzak Allouache (TAHQIQ FEL DJENNA/ INVESTIGATING PARADISE) e Yara Costa (ENTRE EU E DEUS) seguiram com as suas obras o discurso crítico de intelectuais africana/ os, e lembram o fato que o cristianismo e o Islão foram impostos ao continente e que todo mundo tem de fazer parte em evitar esta “segunda colonização” causada pelos fundamentalistas radicais, que são financiados de fora.

Yara Costa acompanha no seu filme documentário “ENTRE EU E DEUS”, uma muçulmana moçambicana jovem e mostra a diversidade religiosa de Moçambique, e ao mesmo tempo, sublinha a ameaça que surge do pensamento fundamentalista, que é geralmente trazida a Moçambique pelos jovens que estudam na Arábia Saudita. O filme é um dos filmes lusófonos do Africa Film Festival (o português é a língua oficial em Moçambique).

Com o seu documentário, Yara Costa consegue mostrar a situação em Moçambique de maneira objetiva e sem juízos de valor. Ela acompanha a protagonista Karen em momentos cheios de certeza, quando ela diz que a Lei da Sharia melhoraria a vida de todo mundo, e também em momentos de dúvida e reflexão, como os média reportam sobre ataques novas de jihadistas, ela questiona as leis das mulheres na Sharia ou o assunto da homossexualidade é discutido à mesa com a sua família muçulmana. O contraste entre o Islão «velho» e «novo» fica particularmente claro pela entrevista com a tia de Karen. A velha senhora é uma macua (etnia do norte de Moçambique) orgulhosa e uma muçulmana fiel. Então ela pratica a prece muçulmana e as tradições dos macuas e diz que, na sua interpretação do Islão, ambas as práticas são possíveis. Ela mantém-se firme contra a influência do exterior, que impõe um Islão cujas regras estritas não alinham com a fé muçulmana do seu lar, enquanto Karen critica a velha geração, por não dar importância às regras estritas, por não se esforçar a entender o Islão «verdadeiro» e por não o praticar como a única religião.

@Yara Costa

Karen é uma mulher confiante, independente e inteligente. Ela é uma das poucas mulheres a estudar engenharia civil e foi educada pela sua mãe falecida, que não era muçulmana, com valores da liberdade e Karen cobre-se com o hijab e mais tarde com o nicabe, contacta um casamenteiro para encontrar um marido e pensa em estudar o Islão num país em que as mulheres não têm a permissão para conduzir carros nem estar em espaços públicos sem acompanhamento masculino. Tudo isso abre a questão, de qual será a motivação de Karen em quer seguir essas regras estritas. Porquê as interpretações do Islão da tia e de Karen são tão diferentes e para onde esse desenvolvimento e a diferença entre os jovens e os velhos levará a sociedade moçambicana. Com “ENTRE EU E DEUS” Yara Costa mostra a importância para entender de onde vem a nova interpretação do Islão em Moçambique e outros países africanos e ajuda-nos ser objetivos e empáticos na reflexão do problema. A sua reportagem é uma obra bem feita, e consegue educar e esclarecer sobre o Islão e os seus problemas em Moçambique.

@Yara Costa

Links

Yara Costa: new religious colonialisms in Mozambique

https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-homens-armados-mataram-52-jovens-em-cabo-delgado/a-53201354

https://www.dw.com/de/nordmosambik-im-visier-des-internationalen-dschihad/a-53291926

https://www.dw.com/pt-002/entre-eu-e-deus-document%C3%A1rio-mo%C3%A7ambicano-chega-%C3%A0-alemanha/a-50618223

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